Jeremias foi um profeta que profetizou em Judá durante o
reinado de seus últimos monarcas, no período de declínio e queda do Reino do
Sul nos séculos 7 e 6 a.C. O profeta Jeremias falou sobre o avanço inevitável
da Babilônia, que culminou no exílio do povo judeu. Neste texto conheceremos o
que a Bíblia diz sobre quem foi Jeremias.
Quem foi Jeremias?
Jeremias foi filho Hilquias e nasceu na cidade de Anatote no
território de Benjamim, em aproximadamente 650 a.C., no período final do
reinado do rei Manassés de Judá. Anatote era um vilarejo sacerdotal que ficava
aproximadamente a três quilômetros de distância de Jerusalém (Js 21:17-18; cf.
Jr 11:21-23).
Jeremias era um sacerdote, além de ser um profeta, e viveu
num dos períodos mais conturbados da história do Oriente Antigo. Quando
Jeremias nasceu, Israel, o Reino do Norte com capital em Samaria, já havia
caído há pelo menos 70 anos diante do Império Assírio.
O nome Jeremias pode ser escrito de duas formas diferentes
em hebraico, uma mais longa, Yirmeyahu, e outra mais curta, Yirmeya. No grego o
nome Jeremias aparece como Ieremias. Existem duas possibilidades para o
significado desse nome. Jeremias pode significar “o Senhor edifica”, no sentido
de exaltar, ou “o Senhor lança”.
Considerando também o significado do nome do pai do profeta
Jeremias, Hilquias, que significa em hebraico “o Senhor é a minha porção”, pode
ser entendido que a família de Jeremias era fiel ao Senhor mesmo durante as
terríveis práticas idólatras durante o reinado de Manassés.
A história de Jeremias: Sua infância e juventude
Durante sua infância, os reinados de Manassés e Amom foram
marcados pela apostasia e idolatria (2Rs 21). O próprio Manassés anulou
completamente as reformas iniciadas por Ezequias, seu pai.
Apesar disso, na cidade sacerdotal de Anatote Jeremias teve
contato com a tradição religiosa de seu povo, e cresceu em um lar temente e
obediente a Deus, onde foi instruído na Lei e recebeu também profundo
conhecimento das profecias de profetas anteriores, como Isaías, Amós e Oséias.
Se a situação interna em Judá era lamentável por conta do
declínio religioso e o paganismo, o ambiente internacional também era bastante
movimentado, com um clima de constante tensão envolvendo os assírios, os
egípcios e os babilônios. Esse era o cenário em que Jeremias passou seus
primeiros anos.
O chamado de Jeremias
Quando o rei Manassés morreu, provavelmente Jeremias tinha
cerca de dez anos de idade. Amom, o filho de Manassés, governou por dois anos
entre 642 e 640 a.C. (2Rs 21:19-26). Depois, quem assumiu o trono foi o jovem
Josias, que governou entre 640 e 609 a.C.
Jeremias foi chamado pelo Senhor como profeta no décimo
terceiro ano de reinado de Josias, em 627 a.C. Na descrição de sua convocação,
podemos perceber a forma soberana com que Deus o chamou:
Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que
saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta. (Jeremias 1:5)
A resposta de Jeremias diante do chamado de Deus foi a de que
ele era incapaz para desempenhar tal tarefa, pois não passava de um menino.
Essa foi a mesma objeção feita por Moisés (Êx 4:10), também semelhante à
observação do rei Salomão quando assumiu o trono de Israel (1Rs 3:7).
A resposta de Jeremias, além de indicar uma possível idade
prematura para exercer tamanha responsabilidade, também pode significar que ele
ainda era espiritualmente e socialmente imaturo, uma pessoa humilde e que não
possuía autoconfiança.
Diante da objeção do jovem Jeremias, o Senhor o tranquiliza
dizendo “não temas” (Jr 1:8). O Senhor o avisou que ele falaria tudo o que lhe
fosse ordenado, mas também prometeu que estaria com ele durante os terríveis
anos de aflição que se aproximavam.
O ministério do profeta Jeremias
O profeta Jeremias exerceu seu ministério num período de
pelo menos quarenta anos, desde sua chamada em 627 ou 626 a.C. até pouco depois
da queda de Jerusalém, em 587 a.C. Assim, o profeta Jeremias profetizou durante
o reinado dos reis de Judá: Josias (640-609 a.C.), Jeoacaz (609 a.C.), Jeoaquim
(609-598 a.C.), Joaquim (598-597 a.C.) e Zedequias (597-586 a.C.).
Um fato bastante interessante é que o ano de início do
ministério do profeta Jeremias foi marcado por grandes reviravoltas
internacionais que marcaram a história mundial. Entre 627 e 626 a.C.,
Assurbanípal, o último grande rei da Assíria, e Candalanu, o governante da
Babilônia, morreram, e Nabopolasar, pai de Nabucodonosor, aproveitou o momento
e se tornou o rei da Babilônia, o que acabou culminando na conquista da Assíria
em 612 a.C. e no florescer do Império Babilônico como a maior potência mundial
em 605 a.C.
O ministério do profeta Jeremias começou em Anatote e
provavelmente ele permaneceu ali durante alguns anos. Durante esse período,
talvez ele parecesse ser um profeta insignificante de um pequeno vilarejo.
Existe um período de silêncio no ministério de Jeremias de
cerca de treze anos (aproximadamente 621-609 a.C.), onde não há informações
sobre a sua vida. Provavelmente durante esse período ele migrou de Anatote para
a capital, Jerusalém.
Após a morte de Josias, Jeoacaz foi colocado no trono de
Judá, mas este reinou por apenas três meses sendo deposto pelo Faraó Neco. Para
servir aos interesses do Egito, em seu lugar foi posto Jeoaquim.
O profeta Jeremias era contra a liderança de Jeoaquim, sendo
que foi nos primeiros anos de seu governo que o profeta proclamou o importante
sermão no Templo que resultou em seu banimento do Templo e quase lhe custou a
vida (Jr 7:1-8:3). Jeremias também profetizou a morte de Jeoaquim (Jr 22:18,19;
36:30).
Depois da morte de Jeoaquim, seu filho, Joaquim, assumiu em
seu lugar, mas governou por apenas três meses antes de ser levado para a
Babilônia. Em seu lugar Nabucodonosor colocou Zedequias.
Nessa época o Egito e a Babilônia estavam disputando o
controle daquela região, e o profeta Jeremias repetidamente profetizou acerca
da vitória da Babilônia, insistindo que qualquer esforço para resistir ao
avanço da Babilônia, mesmo recorrendo a uma possível aliança com o Egito, seria
inútil, pois a Babilônia era um instrumento nas mãos de Deus para executar Seu
juízo. Claro que esse seu posicionamento lhe rendeu perseguições (cf. Jr
37:3,17).
A mensagem do profeta Jeremias
Apesar do ministério do profeta Jeremias ter sido bastante
longo, sua mensagem principal é muito clara, e podemos pontuá-la da seguinte
forma:
O profeta Jeremias convocou o povo ao arrependimento a fim
de evitar o julgamento divino.
Depois, o profeta Jeremias avisou que o tempo de
arrependimento havia se esgotado, e que Judá sofreria o juízo de Deus. Tal
juízo seria muito severo, pois implicava na perda da Terra Prometida.
Jeremias profetizou que o cativeiro babilônico seria
inevitável, e que Jerusalém cairia diante de Nabucodonosor.
Jeremias mostrou, através de sua mensagem, que Judá mereceu
o cativeiro por causa dos graves pecados, sobretudo a idolatria, que
persistiram em cometer.
O profeta Jeremias anunciou que o Templo em Jerusalém não
poderia proteger os judeus do julgamento iminente.
Jeremias também profetizou que Deus salvaria um remanescente
de Seu povo por meio do exílio, pois quando o período de cativeiro terminasse,
haveria uma maravilhosa restauração sob uma nova aliança (Jr 31:31-34). O Novo
Testamento nos mostra que essa promessa encontra seu cumprimento em Cristo (Lc
22:20; 1Co 11:25; Hb 8:6; 9:15; 12:24).
Quando lemos a profecia do profeta Jeremias registrada em
seu livro, entendemos que sua mensagem serviu para lembrar os exilados sobre os
motivos que lhes conduziram às provações que estavam enfrentando, e
assegurar-lhes que, ao se arrependerem, eles voltariam para Jerusalém e
desfrutariam de grande bênçãos.
A personalidade e a vida do profeta Jeremias
Jeremias exerceu todo seu ministério de maneira vigorosa,
mesmo diante de muitas aflições. Ele teve uma vida bastante solitária, muito
por conta da mensagem impopular que transmitia (Jr 15:17).
Durante seu ministério é possível perceber a forma com que
ele se envolveu pessoalmente com sua mensagem, de modo que ele sentiu, antes do
próprio povo, agonia diante da aproximação do cativeiro babilônico, além de
também sentir a fúria do Senhor sobre o pecado do povo (Jr 4:19-21; 8:21-9:3;
10:19-22; 14:19-22).
Jeremias foi proibido pelo Senhor de se casar e formar uma
família, isso para servir como um sinal das transformações que o exílio
resultaria na vida cotidiana do povo (Jr 16:2). Jeremias experimentou angustias
tão grandes durante sua vida que, por conta de seu lamento, ele ficou conhecido
popularmente como o profeta chorão (cf. Jr 4:19; 8:18,21; 9:1,10; 13:17).
O profeta Jeremias foi preso e teve sua vida ameaçada várias
vezes, pois a mensagem que proclamava fazia com que ele se colocasse em
oposição à liderança de Judá. Às vezes, Jeremias parecia que detestava sua
missão, pois ela lhe ocasionava grandes problemas, inclusive com seus parentes
e conhecidos. Ele era alvo de zombaria e todos o amaldiçoavam (Jr 11:18-21;
12:1-6; 15:10-21; 17:12-18; 18:19-23; 20:7-18).
Com base nos detalhes registrados por Baruque, seu escriba,
é possível perceber que Jeremias tinha uma personalidade forte, repleta de
contrastes. Ele era um homem honesto, um profundo observador analítico, gentil,
afetuoso e, ao mesmo tempo, inflexível.
Apesar de se lamentar com frequência, o profeta Jeremias era
uma pessoa otimista e de oração. Ele superou qualquer timidez que pudesse ter
no início de seu ministério, e suportou a hostilidade, a solidão, a angústia e
até mesmo a sensação do aparente fracasso.
Diante de um sofrimento tão intenso, o profeta Jeremias em
algumas ocasiões não conseguia entender por que estava sendo submetido a tudo
aquilo, chegando até mesmo a acusar o Senhor de tê-lo enganado (Jr 20:7) e
desejar a morte (Jr 20:18). Todavia, no fim o profeta entendeu que Deus é
soberano e controla todas as coisas.
O final do ministério do profeta Jeremias
Após a queda de Jerusalém, a fama de Jeremias já havia se
espalhado até mesmo na Babilônia, e o rei Nabucodonosor o deixou em Jerusalém
para ficar com o restante dos judeus que não foram levados para a Babilônia.
O profeta Jeremias então permaneceu ali até que o governador
de Judá, Gedalias, foi assassinado por Ismael, um fanático judeu. Temendo uma
represália dos babilônios, muitos judeus fugiram para o Egito, mesmo contra as
advertências de Jeremias (Jr 42), e acabaram obrigando o profeta a segui-los
(Jr 43).
Já no Egito, o profeta Jeremias, com a idade de pelo menos
setenta anos, continuou pregando a Palavra de Deus (Jr 44:), e, possivelmente,
morreu ali pouco tempo depois. Na verdade, nada se sabe sobre as circunstâncias
de sua morte, apesar de que havia uma tradição que afirmava que Jeremias morreu
apedrejado pelos judeus em Tafnes.
Surgiu também entre os judeus uma crença de que o profeta
Jeremias ressuscitaria dentre os mortos, e restauraria o Tabernáculo trazendo a
Arca da Aliança e o altar do incenso que supostamente ele teria escondido em
uma caverna por ocasião da queda de Jerusalém.
Talvez essa antiga crença possa explicar o porquê que alguns
diziam que Jesus era Jeremias, conforme a resposta dada pelos discípulos diante
da pergunta de Jesus sobre o que o povo dizia acerca de sua identidade (Mt
16:13-14).
O profeta Jeremias foi contemporâneo durante algum tempo do
profeta Sofonias, do profeta Naum, da profetiza Hulda, do profeta Ezequiel e do
profeta Daniel.
Outros Jeremias na Bíblia
Existem também outros personagens da Bíblia com o nome de
Jeremias, dos quais podemos destacar:
O chefe do clã na tribo de Manassés (1Cr 5:24).
Três guerreiros que se juntaram a Davi em Ziclague (1Cr
12:4,10,13).
O pai de Humutal, esposa do rei Josias (2Rs 23:31; 24:18; Jr
52:1).
O pai de Jazanias, um contemporâneo do profeta Jeremias (Jr
35:3).
Um sacerdote que retornou da Babilônia após o exílio com
Zorobabel. O livro de Neemias cita em três ocasiões o nome Jeremias, mas existe
dúvida se são três pessoas diferentes, pelo menos duas ou apenas uma (Ne 10:2;
12:1,12,34).
É importante mencionarmos esses outros homens para que
nenhum deles seja confundido com o profeta Jeremias durante a leitura de algum
texto bíblico.
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